sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O Futebol Continua a ser um "Bilhete para a Violência"


Concordo que o presidente do Sporting fala demais, mas está longe de dizer mentiras, quando fala da forma como o seu Clube e o Benfica são recebidos no "Dragão" (e nem falo dos árbitros...), ano após ano.

Felizmente os tempos são outros, longe dos vividos final dos anos oitenta e começo dos anos noventa do século passado, época de glória do "guarda abel", que com o seu bando lançava o pânico em praticamente todos os estádios por onde passavam, com um "pelotão armado", que não se limitava a intimidar, também batia. Entre os muitos jornalistas alvos da violência portista, falo apenas de um, Carlos Pinhão, que depois de ter sido agredido em Aveiro, decidiu não voltar a fazer reportagens sobre jogos de futebol.

É também por isso que transcrevo algumas frases do meu único romance, "Bilhete para a Violência" sobre o ambiente das bancadas do velho Estádio das Antas (p 43):

«[...] Os adeptos forasteiros estavam cercados de todos os lados. Deviam sentir-se pequeninos, e evitavam as explosões de alegria. Pedro sabia o que era estar cercado por gente doente da bola e da tola. Lembrou-se da sua última visita ao Estádio das Antas como mero espectador, onde assistira a um clássico Porto - Benfica, decisivo para a atribuição do título de Campeão Nacional. O ambiente era demasiado quente nas bancadas; alguns adeptos azuis que estavam por perto, mal os ouviram falar fizeram logo os retrato-tipo de "mouros vermelhos". A partir daqui começou uma guerra surda que ia ganhando forma. Sentiam-se encurralados na bancada. O mais estranho é que não usavam cachecóis, bandeiras ou barretes encarnados, nem tão pouco eram furiosos da bola e do Benfica.
Entreolharam-se meio angustiados por serem obrigados a sentirem-se em terreno alheio. As muitas histórias da violência nas bancadas assustavam-os e não lhes permitiam brilharetes, muito menos festejos. [...]»

Mesmo não sendo sportinguista, gostava que os leões amanhã jogassem melhor e ganhassem no "Dragão", porque todos os jogos de futebol devem ser disputados apenas no relvado.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Ginjal 1940


E um pequeno caderno com apenas 14 poemas, todos eles com dedicatória, de gente ligada de alguma forma ao Ginjal, a Cacilhas e a mim próprio.

Haverá também um segundo caderno (poemas dois), sobre lugares...

Deixo aqui o primeiro poema:

                                       (ao Guilherme Coração)

preso ao fado e ao ginjal

Enquanto ela canta o fado
tu esperas, preso a um cigarro apagado.

Não sabes o que te prende ao Ginjal
mas não ficas à espera de qualquer sinal
que te diga muito mais que o essencial.
De dia andas para trás e para a frente
quase quase ao sabor da corrente
como se tudo te fosse indiferente.

De noite ganhas vida no meio da escuridão,
com as letras que escreves com o coração
e que ouves cantar com tanta paixão.
Sabes que tudo aquilo existe
Ainda que possa parecer triste,
são as palavras de quem não desiste.

A bela cantadeira continua a cantar o fado
E tu permaneces preso a um cigarro apagado.